SILVIO BARROS
Silvio Barros é um multiartista: poeta, editor, agente cultural, artista plástico e fotógrafo – um poeta-escultor que fotografa, como ele mesmo diz. Com incursões no teatro e no texto poético-dramático, Silvio é autor do Poema Crime, livro lançado no início da sua trajetória artística, em 1996, e prefaciado por João Gilberto Noll. Da escrita às artes plásticas, foi proprietário da Loja Tatlin, galeria multimeios de arte, época na qual desenvolveu trabalhos em pintura semifigurativa e objetos abstracionistas.
Nos últimos anos, vem se dedicando à fotografia e agora à arte digital (NFTs), com a qual conjuga aos seus fotogramas o desenho e a escultura em uma síntese ciborgue. A arte subjugando a fórceps as mais duras paisagens de concreto da cidade (Rio de Janeiro) pela imposição dos objetos-máquina.












OBJETOS-MÁQUINA 1
O conceito “objetos-máquina” (machine-objects) surge em um conto de ficção-cientifica, Machina, que eu escrevi há vinte anos. Mistura de escultura com equipamento (me inspirei nos aceleradores de partículas e ciclotrons, ambos utilizados para a pesquisa da matéria e da luz): grandes bólidos incrustrados em paisagens urbanas. Híbridos, máquinas ''psico-estético-pedagógicas'', entre a escultura e o objeto mecânico. [...] busquei elementos retrofuturistas que apontassem para o passado e o futuro ao mesmo tempo. Há vinte anos venho ruminando este conceito, com pausas temporais, anos às vezes, para dedicação a outras linguagens e projetos... e voltas, revezes circunstancialmente mais fortes. Parto da seguinte pergunta: o que é a escultura no atual? Para mim é isso: arroubar a pólis, ressignificá-la a fórceps, desde os seus lugares degradados,,, neutralizados. Objetos que irrompem como bólidos nas paisagens esquecidas (não mais!) da urbe. É um conceito novo, e como diria Rimbaud: “toda nova forma requer um novo nome”. Então, cunhei este termo ''objetos-máquina'' (que falam, emitem sons e imagens)... com projeções estampando o seu entorno, sons que reformulam a “paisagem sonora” desses locais neutralizados. As influências vêm do suíço H. R. Ginger, autor do projeto estético do filme “Alien”, de 1978; do quadrinista norte-americano Alex Reymond, criador da clássica HQ ''Flash Gordon'', nos anos 30; e do cubofuturismo soviético (Tatlin, Malevitch, Ródtchenko e El Lissitzky)... dessa mistura cunhei esta minha vertente de arte. Formas, ao mesmo tempo brutas e estetizadas, que se encaixam/encrustam em partes degradadas da urbe: construções, ruas, recortes... Uma arte para “tocar” o observador e transformá-lo em participante. Uma arte didática, que faz perguntas sobre: “o que significa pensar (?), o que significa existir no atual (?)”. E que questiona a existência desses ''homens-máquinas'' que atravessam a polis diariamente... em suas vidas normativas, programáticas. Uma arte em choque com o habitual (o cotidiano). É isso: educar pelo rompimento do cotidiano... Silvio Barros Rio de Janeiro, Dez/2024
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Safo é um objeto “cubo-futurista”,... não emite sons nem imagens, apenas luz. Está pendurada no abismo, suas luzes vermelhas em spots presos às pedras... jogo, entre luzes e pedras: a luz gerada por painéis fotovoltáicos e a pedra escurecida pelo tempo... (qual será o seu destino?) a jovem poeta se atira no abismo. A noite fria... muitas vezes penso em meus objetos como música para os olhos: Koellreutter para os olhos, diria... Safo é uma ode ao destino; luta, para vencê-lo.


Um objeto-máquina curvo, pendurado sobre a via férrea onde trens chineses arrastam a multidão cansada para as entranhas dos subúrbios da cidade. De dentro de um vagão do metrô, Níobe nasce da visão de uma curva... projetando imagens (figuras da arte greco-romana e renascentista), exala cantos de Claudio Monteverdi e composições minimalistas de Steve Reich... Níobe é uma tentativa de justificar a vida esteticamente. Mesmo naquele quadrante esquecido da polis, lateral, quase “invisível”, neutralizado. Está tudo escuro, imagino Níobe ali... banhada em luz teatral, uma luz vermelha, projetando sons e imagens: dramatizando-os.







Medusa surgiu num dos meus deslocamentos pela urbe; era uma manhã cinza... O projeto começa com um ''mezanino'' sobre o esgotado Canal do Mangue, e de cima do mezanino pessoas “participariam” da instalação: serpentes que se perpassam e emitem luzes, sons e imagens... de seus projetores, irrompem “imagens do paraíso” – reais e idealizadas pelo animal humano. Imagens não experimentadas por nossos antepassados... projetores de imagens apontados para o canal degradado, utilizado como “tela”. De suas caixas de som... coros, duetos, solos de vozes que sussuram: a “Teogonia” de Hesíodo. Heráclito, PÍndaro e Anaximandro. Objeto-máquina energeticamente autossustentável, alimentado por painéis fotovoltáicos.

Minha influência é o cubo–futurismo soviético e o Flash Gordon de Alex Raymond. Hélike tenta afrontar com beleza a decadência da civilização. Instalada ali, na gare degradada, ela sussurra enunciados sobre: “...o que significa pensar?...”; “... há possibilidade de uma humanidade restaurada?...”, ou; “... a vida como anulação dos limites, como conquista de um domínio autoconsciente…’’. Seus tubos serpenteiam pela antiga construção da Leopoldina. Ela faz barulho de vento e sussurra fragmentos filosóficos, e trechos de composições de Shostakovitch... que saem de suas “caixas–terminais”, espécies de oráculos voltados às salas dentro do prédio. (...) um oráculo que faz perguntas, sobre os fundamentos da existência. “....é possível uma vida como experimentação de conhecimento?...”, como propõe Nietzsche....


